21 de set. de 2013
30 de ago. de 2013
28 de ago. de 2013
03/06/11
VI
Eu tinha trinta anos e havia dois que não cortava o
cabelo numa tentativa de disfarçar o efeito de uma discreta calvície que
aumentava minha testa e raleava meu telhado. Para piorar, vários fios brancos
surgiam por todos os lados, principalmente nas têmporas, e se esticavam por
cinco ou seis dedos de cumprimento, tamanho geral da peruca crespa e castanha
que eu portava. Também cultivava minha barba rala até ela atingir aquele
tamanho que pára de crescer e simplesmente vai perdendo a cor, como uma camisa
desbotada por excesso de lavagem. Ao me mirar no espelho um dia, notei que já
tinha idade suficiente para não me sentir igualmente ridículo quando 15 anos
antes fui à farmácia comprar camisinhas que somente seriam estreadas dois anos
depois, e decidi que iria sair de casa com o intuito de comprar uma tinta pra
pintar meu cabelo sem me sentir vaidoso em excesso ou minimamente metrossexual.
Entrei na farmácia, me desvencilhei de vendedores, achei o produto, escolhi me baseando unicamente no preço, procurei um que servisse, peguei o que desejava e entrei na fila que se encolhia perto das prateleiras cheias das mais diversos coisas; barracas, ferramentas para jardinagem, peças elétricas, fios, máquinas de raspar cabelos, óleo para carros, veneno para ratos, instrumentos musicais em miniatura, animais empalhados de plástico, brinquedos para animais e bebês. Durante a espera, as pessoas da fila curtiam status, enviavam emails, compartilhavam opiniões online, conversavam em chats e faziam ativismo virtual em seus celulares enquanto outros observavam cuidadosamente a estante de ofertas: dois pelo preço de um, divida em dez vezes no cartão, faça o crediário, abra uma conta, faça o seguro do seu carro, compre um seguro de vida, imprima suas fotos em tamanho real, faça uma camiseta. Ninguém precisava de nada daquilo, mas vários deles discretamente catavam algo e aglomeravam com seus outros bens ainda por adquirir. Um ou outro fazia ligações e conversavam animadamente por minutos sobre assuntos insignificantes cheios de primeira pessoa.
Cheguei ao caixa, coloquei o produto na frente do atendente que me olhou a cara e passou a caixa na registradora apitando o preço de R$ 18. Ao que ele disse:
-Só isso, senhor?
-Sim, só isso.
-O senhor não quer levar o kit do barbeador x? Está em promoção e você ganha um estojo, um copo e uma loção pós barba. É ótimo...
-... Você tem esse kit?
-Não, senhor.
-Porquê eu precisaria de comprar isso?
-Todo mundo precisa de barbeador...
-Estou deixando a barba.
-... Crédito ou débito?
-Dinheiro, preciso de dois reais para uma nota de vinte.
Plim, clack, tic, a caixa se abre e uma nota de dois aparece em minhas mãos junto com o recibo da compra e minha caixa dentro de uma sacola de plástico. Novamente o caixa diz:
-O senhor gostaria de doar esses dois reais para a causa X?
-Não, e também não preciso dessa sacola de plástico. Pode jogar o recibo fora pra mim? Tem como você trocar essa nota por quatro moedas de cinqüenta centavos? Obrigado.
Ele escondeu mal uma cara de discórdia, mas nada o impediu de fazer exatamente como eu havia pedido. Fui embora pensando que aquele seria o dia em que eu pintaria meu cabelo pela primeira vez e ainda me sentia incomodado com a repentina importância que descobri que dava à estética.
Entrei na farmácia, me desvencilhei de vendedores, achei o produto, escolhi me baseando unicamente no preço, procurei um que servisse, peguei o que desejava e entrei na fila que se encolhia perto das prateleiras cheias das mais diversos coisas; barracas, ferramentas para jardinagem, peças elétricas, fios, máquinas de raspar cabelos, óleo para carros, veneno para ratos, instrumentos musicais em miniatura, animais empalhados de plástico, brinquedos para animais e bebês. Durante a espera, as pessoas da fila curtiam status, enviavam emails, compartilhavam opiniões online, conversavam em chats e faziam ativismo virtual em seus celulares enquanto outros observavam cuidadosamente a estante de ofertas: dois pelo preço de um, divida em dez vezes no cartão, faça o crediário, abra uma conta, faça o seguro do seu carro, compre um seguro de vida, imprima suas fotos em tamanho real, faça uma camiseta. Ninguém precisava de nada daquilo, mas vários deles discretamente catavam algo e aglomeravam com seus outros bens ainda por adquirir. Um ou outro fazia ligações e conversavam animadamente por minutos sobre assuntos insignificantes cheios de primeira pessoa.
Cheguei ao caixa, coloquei o produto na frente do atendente que me olhou a cara e passou a caixa na registradora apitando o preço de R$ 18. Ao que ele disse:
-Só isso, senhor?
-Sim, só isso.
-O senhor não quer levar o kit do barbeador x? Está em promoção e você ganha um estojo, um copo e uma loção pós barba. É ótimo...
-... Você tem esse kit?
-Não, senhor.
-Porquê eu precisaria de comprar isso?
-Todo mundo precisa de barbeador...
-Estou deixando a barba.
-... Crédito ou débito?
-Dinheiro, preciso de dois reais para uma nota de vinte.
Plim, clack, tic, a caixa se abre e uma nota de dois aparece em minhas mãos junto com o recibo da compra e minha caixa dentro de uma sacola de plástico. Novamente o caixa diz:
-O senhor gostaria de doar esses dois reais para a causa X?
-Não, e também não preciso dessa sacola de plástico. Pode jogar o recibo fora pra mim? Tem como você trocar essa nota por quatro moedas de cinqüenta centavos? Obrigado.
Ele escondeu mal uma cara de discórdia, mas nada o impediu de fazer exatamente como eu havia pedido. Fui embora pensando que aquele seria o dia em que eu pintaria meu cabelo pela primeira vez e ainda me sentia incomodado com a repentina importância que descobri que dava à estética.
22/08/13
V
Estava lecionando. Um
cheiro de maconha surgiu no ar. Ninguém disse nada. Momentos após o cheiro acabar,
a sala foi novamente tomada por um outro cheiro; plástico queimado,
terrivelmente industrial. Todos reclamaram abertamente e expressaram caras
feias, tontura e tosse. Fim da aula e todos se retiram calados, aturdidos. Pensando no que seria, saí da escola à procura do fogo e ao passar ao lado de
um lava a jato vizinho ouço o seguinte comentário “que cheiro de pedra!”. Volto
para a escola, ainda mareada e envolta em conversas e preocupações sobre o que queimava
e digo com voz de repórter sensacionalista “esse cheiro é de crack”. Todos se
acalmam, cancelam a ligação aos bombeiros, o telefone toca e a vida volta ao
normal.
28/08/13
IV
Nos breves momentos que sucedem o
constrangimento sentido quando noto na fala de alguém convicções com data de
validade a expirar sendo apresentadas como verdades universais em tom
excessivo, cerro meus olhos para não ser cego por tanto brilho, ouvidos seletivos
filtram a retórica do discurso, ensaio um sorriso de fachada e diplomaticamente
ouço com as mãos nos bolsos ou senão com os dedos todos a estalar um por um,
olho para o locutor, pisco lentamente mantendo meus olhos fechados pelo dobro
do tempo necessário e não digo nada.
Claro que não sou Buda e julgo e mordo a língua discretamente até sangrar com cara impassível ainda sorrindo sem mostrar os dentes, mas depois de anos pedindo desculpas e desdizendo coisas de ímpeto e da boca do momento, hoje prefiro respostas monossilábicas com entonação natural, com cuidado para não parecer arrogante, pois atitudes arrogantes sempre causam antagonismo e precedem justificativas.
Claro que não sou Buda e julgo e mordo a língua discretamente até sangrar com cara impassível ainda sorrindo sem mostrar os dentes, mas depois de anos pedindo desculpas e desdizendo coisas de ímpeto e da boca do momento, hoje prefiro respostas monossilábicas com entonação natural, com cuidado para não parecer arrogante, pois atitudes arrogantes sempre causam antagonismo e precedem justificativas.
O telefone havia tocado e agora você fala
e diz e acha que estou perdido -usando o máximo de palavras, mas é da boca pra
fora então eu relevo e lembro que você não bebe café pois te agita- foi a minha
leitura resumida da ligação na qual fiquei cinco minutos ouvindo o que sente e pensa
e tudo que eu disse foi sim, compreendo, arram e oquêi nos silêncios que você
usava para respirar. Enquanto eu refletia calado sobre de onde viria conselho
opinião expectativa embalado com receio e hipótese vulgar, eu era distraído
pelas conjecturas que a mente cria e sua boca teima em dizer.
9 de jan. de 2013
telexibicionista em negação
I
O telefone tocou e ele atendeu de
imediato. Nem ponderou. Era habito treinado com esporros que já tinha a anos. O
ponto é que ele estava no meio da trepada. Era seu chefe que queria saber o
motivo das duas horas de atraso. Indeciso e ainda com o pau dentro, ofegava com
a criatividade abalada pela posição pouco convencional que se encontrava, mas
respondeu que estava numa sala de emergência sentindo falta de ar, e que entraria
em contato com ele logo após a consulta ou assim que pudesse. Desligou o
telefone. Caso estivesse mesmo numa consulta, ele não atenderia o telefone e
ligaria depois. Mas como se sentia profundamente incomodado ao escutar o som de
qualquer telefone tocando e com a consciência pesada pela sua falta de
profissionalismo e compromisso com a empresa, características presentes em todo
funcionário de bom caráter, motivado pelo habito bobo de atender telefones onde
quer que estivesse não se conteve e atendeu o telefone durante a trepada. Seu pau já estava mole dentro do preservativo
e acabou por escapar da xoxota dela. Malditos telefones anti-foda.
Eu
odeio telefones. Não consigo me comunicar bem, me acho grosseiro e muito
objetivo. As pessoas sempre acham que eu estou apavorado e querendo desligar. E
estão geralmente certas. Pior ainda quando estou sob efeito de entorpecentes, o
que é bem corriqueiro. Não é que eu não saiba falar ao telefone. É que eu não
gosto mesmo. Eu não tenho o costume de usar o telefone para bater papo – seu
telefone é a minha mesa de bar. Hoje vi o jogo do meu time de futebol e não bebi
nem uma cerveja. O jogo ficou 2x1 mas ainda tem o jogo da volta dessa
competição internacional. Não tinha cerveja aqui em casa e como eu estava
deitado no sofá com o controle remoto na mão, me contive e não pensei nisso.
Consegui controlar a vontade de beber e achei bom ter tido preguiça de ir
comprar ali na esquina a duas quadras da minha casa. O terreno é plano, não há
esforço sobre humano algum, é só a preguiça do corpo podando certos desejos
boêmios. Será que estou vivendo uma vida mais regrada? Minha mãe se orgulharia
em saber disso. Vou acender um aqui e meditar sobre o assunto...
Mas
ele atendeu ao telefone no meio da trepada e ainda conseguiu convencer seu
chefe. Desligou pensando que agora ele teria que passar num hospital ou ligar
para um de seus amigos médicos para conseguir uma declaração de presença na
consulta. E com certeza faria a primeira opção. Seu senso ético voltava a
circular no sangue em detrimento do seu pau. Mas nada que um boquete e uma
chupada nas bolas não resolvessem. E foi o que aconteceu, antes de entrar numa
camisinha nova e adentrar a bocetinha que ainda estava molhada, quente e
convidativa como as todas as bocetas localizadas entre as pernas das mulheres
do mundo. Colocou ela de quatro, e confiando na tradicional e fatídica
posição, penetrou até o fim e com tudo
lá dentro, debruçou sobre ela, enquanto
a mão esquerda segurava a teta esquerda e a outra estimulava seu grelo. Quando
ela começou a fazer barulhos ele aumentou a velocidade da mão e começou a tirar
tudo e enterrar de volta, num ritmo que em 5 minutos os dois haviam gozado.
Agora tinha que ir ao hospital.
II
Tinha vontade de mijar e o
telefone pedia atenção tremendo e gritando. Com certeza era uma pessoa com os
mesmo sintomas e nome de mulher. O toque soou duas vezes e foi silenciado. Eram
onze e quarenta e três da manhã e já estava acordado desde nove. O telefone
tocou até parar. Foi mijar. Acendeu um cigarro, o primeiro do dia. Abriu um
livro que tinha ganhado no dia anterior para ser interrompido pelo telefone
trinta minutos depois. O telefone traduziu qualquer coisa que poderia ser dita
pela ligação. Estava tremendo e gritando novamente, pedindo atenção. Numero
confidencial. Não atendeu. Já havia uma semana que não atendia ao telefone.
Toda vez que o telefone tocava era uma descarga de ansiedade em sua corrente
sanguínea. O inesperado o causava temor. O problema era que telefonemas não
tinham titulo nem prefácio. Não sabia o que poderia ser. Como seria bom se
pudesse saber de antemão o tópico da conversa, assim evitaria desagrados
desnecessários. Calou o telefone e voltou a ler o livro. Era uma seleção de
contos e o atual falava de um casal de turistas que tinha ido numa praia de
nudismo no rio de janeiro, o carro havia acabado a bateria, foram parados por
policiais portando drogas e não foram pegos para no fim ficarem perdidos e subir
a serra do Grajaú por engano, de madrugada. Nada de interessante acontecia a
eles. Já eram uma e trinta e quatro na tela do celular. Fechou o livro e o
deixou em cima da cama e ligou o computador. Quando abriu a tela inicial, na
área de trabalho havia vários vídeos que serviriam para o propósito que duraria
cerca de cinco minutos. Ao terminar, se limpou, pegou o celular e digitou a
seguinte mensagem “no momento estou ocupado, me envie uma mensagem que retorno quando
puder”. Enviou para os dois últimos números e acendeu outro cigarro. Pensou:
Bem, quem sabe agora tenho uma prévia do assunto. Deu um trago e sentiu gosto
de leite. Já era hora de parar de fumar. Ao bater a cinza num pires, viu um
copo. Havia uma pequena camada de poeira alojada em cima da água, imagem que o
lembrou de tomar o remédio que sacou da embalagem e engoliu, bebendo do copo
que dormia ao seu lado por no mínimo duas noites. O telefone avisa que chegou
mensagem nova. Correr para ver as mensagens novas não era uma característica
sua. Deixava a curiosidade angustiante decantar para somente após ler. O livro
continuava em cima da cama. Tossiu. Pegou o livro, leu mais duas paginas e
pensou que o remédio demoraria trinta minutos para fazer efeito.
III
“ME
LIGA PRECISO FALAR COM VC”. - Não adiantou. Era idiota. Como que uma pessoa
responde a uma mensagem daquelas com essa frase? A ligação inicial era
suficiente para saber que ela queria falar com ele. Era tão estúpido quanto
ligar para uma pessoa que está a algum tempo sem falar contigo e introduzir a
conversa com “por que você não me ligou?”. Quem tem algo para falar deve dizer
logo e não ficar com essas brincadeiras e “PRECISO FALAR COM VC” não era o
titulo que imaginou que conseguiria inicialmente. Ele estava puto por que ainda
teria que utilizar de comunicação oral para saber do que se tratava. Eram duas e catorze. Sentia-se bem mais tranquilo
e com fome. O pires estava cheio de pontas.
Foi tomar um banho.
3 de out. de 2011
20 de set. de 2011
13 de set. de 2011
dada
a media mongul - mobbed by her fans -
suggested that a nanny to care
is nagging her speeches
as a part of the crime bill.
a man was stabbed to death,
a door swung open to stabilize your heart
burst a machine gun - but he refused to squeal.
she is running on the turmoil
while judges and rival gangs
can always spend more time
and promise to enter here and find a friend.
her occupancy in the occult and the stale odor of birth:
she called at nine, obsessively washing her dress:
a rude awakening would be a shame.
offered a shot outside, shoveling persuasion
but nothing happened.
I - decisões diárias
I
Eu sempre preferi evitar qualquer contato com meus vizinhos, nunca pedi ovo nem vela ou uma xícara de nada emprestado. Não sentia que era essa uma postura anti-social, simplesmente pensava que a surpresa causada por uma campainha tocada inesperadamente era um imprevisto delivery tal qual um telefone fixo chamando, sem bina.. Todas as vezes em que atendi à campanhia, fui interrompido em algo que eu fazia para atender à algo inexpressivo que precisava ser feito. Assine aqui, reunião de condomínio, carro arranhado, festas barulhentas... Girar a maçaneta era o primeiro dos 3 atos e o único que estava sob meu controle. Já o segundo ato começava com um sorriso que levava à inevitável conversa superficial sem previsão de término que geralmente culminava no terceiro ato, o pedido de favor obrigatório que era o clímax de tudo.
Eu tentava abreviar esses contatos corriqueiros usando ao máximo as palavras de bom trato e cortesias em suas específicas circunstâncias; segurava a porta do elevador, não proferia bom dia após às 12 e procurava falar obséquio sem ser pedante ao menos uma vez por semana. Tirando isso, eu me abstinha ao máximo de participar em conversas descartáveis, como o tempo, o jogo, a eleição, a obra, o barulho, a vida. Eu mantinha o som baixo depois das 21, não tinha animais de estimação e pregava com bom senso e discrição um aviso invisível de ‘não perturbe’ em minha porta.
Eu já estava desempregado a duas semanas e passava muito tempo em casa. Dedicava esses momentos de tranquilidade para tocar e ouvir música, escrever e ler, ver filmes, fumar maconha e me alongar moderadamente andando de bicicleta nas ruas, numa tentativa de compensar as cervejas diárias.
Era segunda feira e eu tinha que fazer a homologação de minha demissão. Eu havia estado trabalhando como administrador de uma franquia e tinha estado de saco cheio por um ano. eu estava saindo por volta das 10 horas da manhã, e ao chamar o elevador de serviço para descer com a bicicleta, vejo o vizinho saindo de seu apartamento calçando o sapato, com a gravata mal colocada, cabelo molhado, espuma de barbear no pescoço, celular tocando, passo apressado para entrar no elevador. Disse bom dia sem conseguir ouvir sua resposta pois ouvia astor piazzola no fone, mas vi pelos meus óculos escuros que sua boca se mexeu em resposta à minha cortesia. O que me chamou à atenção foi o olhar de cima abaixo que ele me deu. Eu vestia uma camisa azul florida aberta até o terceiro botão e um bermudão largo, meias listradas subidas até o joelho, tênis allstar vermelho cano alto e tinha o bigode de 2 semanas e barba de 4 dias. Eu exalava um discreto cheiro de maconha matinal e segurava uma cerveja ainda fechada, o café da manhã dos campeões. O elevador chegou à garagem e ele entrou apressado no carro e cantou os pneus até portão, onde buzinou até o porteiro abrir enquanto eu estourava minha cerveja.
Andei de bicicleta por 2 horas e voltei para casa suado e satisfeito. Tomei água e banho, comi uma pizza do dia anterior, tomei outra cerveja, bati uma punheta na internet e fui assitir um filme online. Ví dois filmes de ficção, um tema muito pouco aceito entre os entendidos de filmes, soylent green, uma produção pré blade runner de 73 sobre um futuro capitalista na fase de carvão onde todo o planeta se tranformou em uma favela superpopulosa sem trabalho e somente uma empresa vende alimentos. O outro é chamado they live, sobre uma sociedade secreta que manipula os desejos da humanidade, algo como o partido em 1984, mas disfarçado por publicidade subliminar pelas cidades. O primeiro filme é ótimo, o segundo é pastelão. Tomando cerveja, recomendo os dois.
Andei de bicicleta por 2 horas e voltei para casa suado e satisfeito. Tomei água e banho, comi uma pizza do dia anterior, tomei outra cerveja, bati uma punheta na internet e fui assitir um filme online. Ví dois filmes de ficção, um tema muito pouco aceito entre os entendidos de filmes, soylent green, uma produção pré blade runner de 73 sobre um futuro capitalista na fase de carvão onde todo o planeta se tranformou em uma favela superpopulosa sem trabalho e somente uma empresa vende alimentos. O outro é chamado they live, sobre uma sociedade secreta que manipula os desejos da humanidade, algo como o partido em 1984, mas disfarçado por publicidade subliminar pelas cidades. O primeiro filme é ótimo, o segundo é pastelão. Tomando cerveja, recomendo os dois.
Por volta das 7 saí para comprar mais cerveja. Desci até a padaria e comprei 6 heineken em garrafas de 355 ml e voltei para casa tomando uma delas. No prédio, chamei somente um elevador. Ele chegou, eu entrei e apertei o 9, mas antes de subir o elevador desceu até a garagem, onde entrou o vizinho, sem gravata e com o terno nas mãos. Dessa vez seu olhar foi inverso, de baixo pra cima; eu vestia tênis sem meia, a mesma bermuda e camisa florida azul, óculos degradê e tinha 5 cervejas no pacote numa mão e uma cerveja aberta na outra. Ele tinha o olhar cansado. Eu exalava um sutil cheiro de maconha. Ele assentiu com a cabeça e piscou ambos olhos num cumprimento silencioso, enquanto ele se direcionava para apertar o botão do 9. Eu disse boa tarde e tomei um gole. Ele avistou o botão pressionado e se deteve no meio do movimento, pronunciando palavras sem som. Alí estava a formiga e a cigarra frente à frente numa segunda feira às 7 e pouco da noite. A formiga acabada e a cigarra levemente chapada. A porta se fechou e ele olhou o relógio de novo, enquanto nossas diferenças ficaram transparentes com o silêncio do elevador subindo.
Estava calor. Na segunda vez que ele levantou a vista, ele tinha adquirido os traços característicos de uma pessoa que vai verbalizar qualquer coisa desnecessária, e antevendo tudo, estendi a mão com as 5 garrafas restantes num ato mundialmente conhecido como - beba uma cerveja - e coloquei uma gelada na mão dele, quase como um cumprimento silencioso. Ele agradeceu, abriu a cerveja, brindou e deu um bom gole. O elevador chegou sem que outras palavras fossem trocadas, e abriu as portas. Eu disse tchau, ele agradeceu de novo e cada um foi para sua casa. Havia conseguido evitar uma conversa sobre o tempo e tinha sido melhor assim. Mas eu sabia que homens já haviam ficado amigos em situações piores.
9 de mai. de 2009
have a cigar?
A noite clareava sem pressa e o café que esfriava aquecia muito pouco. Estava em pé e fazia ronda continua por todos os centímetros do mesmo metro quadrado com frio e obrigado a filtrar toda a ansiedade do mundo. Parou depois de alguns minutos para começar a dar pequenos tapas com as palmas das mãos pelas pernas até que previsivelmente tateou os bolsos da calça sem que o achasse e de repente levou a mão ao peito e alcançou a carteira de cigarros no bolso da camisa. Ao lançar um para fora, de maneira ensaiada e praticada diariamente, acendeu fazendo cara de que tinha entendido algo ou lembrado onde havia guardado meia garrafa de uísque. Era a quarta vez que tinha parado de fumar e voltara. Sempre se rendia à sensação da primeira tragada e após 4 meses sem fumar, agora estavam ali os cigarros que comprara numa tentativa de moldar primeiridade à força. Fumou e o sentimento da primeira tragada foi indescritivelmente efêmero - para não gastar palavras - e o cigarro era consumido como se fosse o primeiro do dia, sensação estranha para quem não dormia a três noites. Ao lembrar isso, se enganou por um segundo conferindo no relógio se o sol estava se pondo. Essa dúvida momentânea aumentou o gosto de penúltimo que o cigarro já tinha e contribuiu para que ele durasse menos que o desejado. Ao fim, soprou a fumaça azul que abraçou o horizonte enquanto o toco foi jogado com força desnecessária e sem direção. Recomeçou a andar em volta, mantendo suas pálpebras afastadas como se isso exorcizasse os sonhos. Insônia induzida por ansiedade tinha vários efeitos colaterais e dar vazão a impulsos hedonistas sempre foi o pior deles.5 de fev. de 2009
despedida I
Ele olhava com o canto dos olhos vermelhos à procura. O bar estava cheio e era grande e delgado. Foi até o fim, passando por todos e avistou a mesa que mais odiava com ela sentada, cercada por homens que não faziam questão de ser do sexo masculino. Após contato visual estabelecido de ambos lados, sorrisos sinceros na distância que culminaram em um abraço que durou mais que o necessário pelo fato de sentir seu corpo comprimido contra o dela. E foi bom. E mesmo em tal mesa, decidiu sentar para uma bebida. Por causa dela. Ela não se deteve em expressar o que sentia, surpresa e admiração claras no tom de voz e nas expressões corporais. Ela era assim. Se levantava para dançar as músicas que gostava. E sabia dançar de maneira sexy. E sabia gostar de músicas ótimas. Ele forçava uma aparência blasé e pediu um chope claro. Com duas ou três palavras versadas de cada lado ele notou que ela estava ligeiramente ébria e se lembrou do telefonema que havia dado para ela 20 minutos antes. A demora para o telefone ser atendido começava a fazer sentido e a disposição das cadeiras confirmava que ela estava acompanhada.
Mas o agravante foi que o tal era um dos -cromossomicamente falando- homens que maestravam o silêncio instaurado na mesa desde o momento que ele chegou. Não tardou minuto para a mão do outro procurar asilo em seu colo, que se distanciava a cada minuto. E logo foi o beijo. E o que veio depois foi uma constante tentativa da parte dele para não presenciar o amasso que acontecia dentro do mesmo metro quadrado que ele estava. Desviava os olhos mas perifericamente testemunhava e não gostava. “Ela estaria linda se não estivesse em braços de outrem” pensou, aguardando o chope. “Pessoas de passagem não merecem cumprimentos”, pensam os dedos dela se refugiando no cabelo alheio, atordoados pelo cheiro da saliva que compartilhavam em sorrisos etílicos e carinhos de primeira viagem.
Ninguém foi apresentado a ninguém. O chope demorou muito para chegar. Ele o tomou quente em 4 goles, se despediu dela e saiu.
Ninguém foi apresentado a ninguém. O chope demorou muito para chegar. Ele o tomou quente em 4 goles, se despediu dela e saiu.
11 de jan. de 2009
ele sofria de acracia expressa
e pela verborréia intercalava
pensamento profundo
pensamento profundo
e sentimento vulgar
- mal disfarçava.
e pressentia a resposta
olhando fixo e piscando muito,
buscando detalhes no silêncio
e escolhendo arrependimentos
- proibido gesticular.
as pessoas haviam lhe roubaram a solidão,
seu único vício pouco regrado.
mas o óbvio só é visto pelos olhos bem treinados.
18 de out. de 2008
sabado 14:06
não quero morrer uma vida sem roteiro,
cometer uma gafe sem ensaio ou um erro igual ao outro.
cometer uma gafe sem ensaio ou um erro igual ao outro.
minha coleção de mágoas incompletas e beijos não roubados continua congelada
logo abaixo dos pinguins , sempre com fome por algo novo e esses dedos suturados por não temer cacos sangram lentamente mesmo já cicatrizados.
17 de out. de 2008
sentimento presente 18/10/08
sem intento a curto prazo, esse agito interno me atormenta lentamente entre os comerciais, mas estive brincando de não ser mais triste, sem lástima nem regozijo, nada apraz nem me desgosta.
estive brincando de amenizar os sentidos, evitando o que meus olhos focam e os dedos tocam, evadindo sem intrepidez, simplesmente aguardando passar.
cansei de quantas vezes repisei o chão mordendo a língua por costume e de tanto incômodo nem sinto mais dor, simplesmente aguardo passar.
me cansei do constante esperar e do calor que me causa quando choca a rotina a hipótese de algo melhor além do que o braço alcança.
31 de jul. de 2008
8 de jul. de 2008
are you hungry? are you pagan?
peitos lúcidos despontam atrás de algodão com feixe duplo e me encaram nas pupilas.
o apelo é notado imediatamente e me sinto pressionado pra fora da calça;
peitos que apontam a direção inversa de onde venho.
talhos dividem as bundas que fogem da calça;
talhos dividem as bundas que fogem da calça;
este lado para cima; frágil -dizem os cofres em braile.
escuto esses sussurros e suspiro de vontade.
constante desperdício de umidificações vaginais.
constante desperdício de umidificações vaginais.
e minha sede aumenta.
22 de mar. de 2008
talento de princípio ativo ?
eu estava me viciando lentamente nessas crises de abstinência em detrimento da saúde mental que mantia pupilas em lua cheia fixas em espera e angústia nos braços tremendo boca salivando metal cara inchada por dormir demais e que aprentava choro para transeuntes que preferem pensar por traumas - ou então ele levou um chute na cara, na altura do nariz e por sorte não quebrou nada - julgavam olhos de reprovação direcionados de cima daquela virtude momentânea que é gerada pela capacidade de conjecturar sobre a vida alheia em breves momentos de certeza mórbida, fato real que assola locutor do pensamento e açoita interlocutor. certeza mórbida que nos serve como distração da deplorável existência e baixeza espiritual devido o fato de não conseguir colocar rótulos em pensamentos impertinentes e deixar o próximo aparecer. o interlocutor responde com piscar de ambos olhos num sutil e constante foda-se a cada segundo ou menos depende do vento, mas a médica descreveu os sintomas e escreveu a receita e a bula dizia apatia, irritações cutâneas e incapacidade de se admirar por alguém.
9 de mar. de 2008
monções honrosas
hostilizado pelo domingo chuvoso
e em coma mental causado
pelas doses cavalares de ócio televisionado
pesos e pedidos soterram o senso crítico
com o incessante fluir de amenidades
recitadas com tom importante.
eis que ouço reclamações por me condicionar à constante troca de canais
mantendo o mito da onipresença que me causa náusea de meias molhadas:
o controle remoto é uma ilha de edição barata.
6 de mar. de 2008
poluições noturnas
e fica indecisa entre o dito e o não dito,
e não há nada que prove o contrário
além de sua palavra contra a minha.
e nunca há vencedor nesse jogo de esconde-empurra
onde os pedidos perdidos por não serem falados
são trocados por vale achados
- manuscritos com letra terrível e sem valor algum –
porém no calor da discussão
os corações congelados derretem
e um fino orvalho precipita
no forro interno da calcinha.
Assinar:
Comentários (Atom)

























