V
Estava lecionando. Um
cheiro de maconha surgiu no ar. Ninguém disse nada. Momentos após o cheiro acabar,
a sala foi novamente tomada por um outro cheiro; plástico queimado,
terrivelmente industrial. Todos reclamaram abertamente e expressaram caras
feias, tontura e tosse. Fim da aula e todos se retiram calados, aturdidos. Pensando no que seria, saí da escola à procura do fogo e ao passar ao lado de
um lava a jato vizinho ouço o seguinte comentário “que cheiro de pedra!”. Volto
para a escola, ainda mareada e envolta em conversas e preocupações sobre o que queimava
e digo com voz de repórter sensacionalista “esse cheiro é de crack”. Todos se
acalmam, cancelam a ligação aos bombeiros, o telefone toca e a vida volta ao
normal.