20 de set. de 2011

Graphics Interchange Format = loop eterno





um inferno me aparece 
em cada personagem 
preso dentro de um GIF




13 de set. de 2011

25/05/11





sensitive and anxious
pleased and satisfied
receive and return
to happen again

certain human tasks
adventure and excitment
persuaded by flattery and deceit

unmoderated necessities
play to set free
covering for the words
and attracting the sober

tits




havia
peitos contidos
e nada escondidos
perímetro do mamilo e pintas
-assim prefiro

havia
pelos cantos folia
e no pulso batia
euforia de cafeína
e paranoica ia...

o teatro do errado



quantos amantes por instante 
suporta a donzela magrela?

e quem tolera as mazelas 
e queixumes de costume
da menina amarela?

é um embate pelo empate:

um ponto é de partida,
mas é o outro que justifica a briga.


débito com o personagem hereditário



um dama interesseira
desmaiou em maio
ao se ver uma caveira

dada



a media mongul - mobbed by her fans -
suggested that a nanny to care
is nagging her speeches
as a part of the crime bill.


a man was stabbed to death,
a door swung open to stabilize your heart
burst a machine gun - but he refused to squeal.


she is running on the turmoil
while judges and rival gangs
can always spend more time
and promise to enter here and find a friend.


her occupancy in the occult and the stale odor of birth:
she called at nine, obsessively washing her dress:
a rude awakening would be a shame.


offered a shot outside, shoveling persuasion
but nothing happened.









I - decisões diárias


I

Eu sempre preferi evitar qualquer contato com meus vizinhos, nunca pedi ovo nem vela ou uma xícara de nada emprestado. Não sentia que era essa uma postura anti-social, simplesmente pensava que a surpresa causada por uma campainha tocada inesperadamente era um imprevisto delivery tal qual um telefone fixo chamando, sem bina.. Todas as vezes em que atendi à campanhia, fui interrompido em algo que eu fazia para atender à algo inexpressivo que precisava ser feito. Assine aqui, reunião de condomínio, carro arranhado, festas barulhentas... Girar a maçaneta era o primeiro dos 3 atos e o único que estava sob meu controle. Já o segundo ato começava com um sorriso que levava à inevitável conversa superficial sem previsão de término que geralmente culminava no terceiro ato, o pedido de favor obrigatório que era o clímax de tudo.
Eu tentava abreviar esses contatos corriqueiros usando ao máximo as palavras de bom trato e cortesias em suas específicas circunstâncias; segurava a porta do elevador, não proferia bom dia após às 12 e procurava falar obséquio sem ser pedante ao menos uma vez por semana. Tirando isso, eu me abstinha ao máximo de participar em conversas descartáveis, como o tempo, o jogo, a eleição, a obra, o barulho, a vida. Eu mantinha o som baixo depois das 21, não tinha animais de estimação e pregava com bom senso e discrição um aviso invisível de ‘não perturbe’ em minha porta.  

Eu já estava desempregado a duas semanas e passava muito tempo em casa. Dedicava esses momentos de tranquilidade para tocar e ouvir música, escrever e ler, ver filmes, fumar maconha e me alongar moderadamente andando de bicicleta nas ruas, numa tentativa de compensar as cervejas diárias.

Era segunda feira e eu tinha que fazer a homologação de minha demissão. Eu havia estado trabalhando como administrador de uma franquia e tinha estado de saco cheio por um ano.  eu estava saindo por volta das 10 horas da manhã, e ao chamar o elevador de serviço para descer com a bicicleta, vejo o vizinho saindo de seu apartamento calçando o sapato, com a gravata mal colocada, cabelo molhado, espuma de barbear no pescoço, celular tocando, passo apressado para entrar no elevador. Disse bom dia sem conseguir ouvir sua resposta pois ouvia astor piazzola no fone, mas vi pelos meus óculos escuros que sua boca se mexeu em resposta à minha cortesia. O que me chamou à atenção foi o olhar de cima abaixo que ele me deu. Eu vestia uma camisa azul florida aberta até o terceiro botão e um bermudão largo, meias listradas subidas até o joelho, tênis allstar vermelho cano alto e tinha o bigode de 2 semanas e barba de 4 dias. Eu exalava um discreto cheiro de maconha matinal e segurava uma cerveja ainda fechada, o café da manhã dos campeões. O elevador chegou à garagem e ele entrou apressado no carro e cantou os pneus até portão, onde buzinou até o porteiro abrir enquanto eu estourava minha cerveja.  
 
Andei de bicicleta por 2 horas e voltei para casa suado e satisfeito. Tomei água e banho, comi uma pizza do dia anterior, tomei outra cerveja, bati uma punheta na internet e fui assitir um filme online. Ví dois filmes de ficção, um tema muito pouco aceito entre os entendidos de filmes, soylent green, uma produção pré blade runner de 73 sobre um futuro capitalista na fase de carvão onde todo o planeta se tranformou em uma favela superpopulosa sem trabalho e somente uma empresa vende alimentos. O outro é chamado they live, sobre uma sociedade secreta que manipula os desejos da humanidade, algo como o partido em 1984, mas disfarçado por publicidade subliminar pelas cidades. O primeiro filme é ótimo, o segundo é pastelão. Tomando cerveja, recomendo os dois. 
 
Por volta das 7 saí para comprar mais cerveja. Desci até a padaria e comprei 6 heineken em garrafas de 355 ml e voltei para casa tomando uma delas. No prédio, chamei somente um elevador. Ele chegou, eu entrei e apertei o 9, mas antes de subir o elevador desceu até a garagem, onde entrou o vizinho, sem gravata e com o terno nas mãos. Dessa vez seu olhar foi inverso, de baixo pra cima; eu vestia tênis sem meia, a mesma bermuda e camisa florida azul, óculos degradê e tinha 5 cervejas no pacote numa mão e uma cerveja aberta na outra. Ele tinha o olhar cansado. Eu exalava um sutil cheiro de maconha. Ele assentiu com a cabeça e piscou ambos olhos num cumprimento silencioso, enquanto ele se direcionava para apertar o botão do 9. Eu disse boa tarde e tomei um gole. Ele avistou o botão pressionado e se deteve no meio do movimento, pronunciando palavras sem som. Alí estava a formiga e a cigarra frente à frente numa segunda feira às 7 e pouco da noite. A formiga acabada e a cigarra levemente chapada. A porta se fechou e ele olhou o relógio de novo, enquanto nossas diferenças ficaram transparentes com o silêncio do elevador subindo. 
 
Estava calor. Na segunda vez que ele levantou a vista, ele tinha adquirido os traços característicos de uma pessoa que vai verbalizar qualquer coisa desnecessária, e antevendo tudo, estendi a mão com as 5 garrafas restantes num ato mundialmente conhecido como - beba uma cerveja - e coloquei uma gelada na mão dele, quase como um cumprimento silencioso. Ele agradeceu, abriu a cerveja, brindou e deu um bom gole. O elevador chegou sem que outras palavras fossem trocadas, e abriu as portas. Eu disse tchau, ele agradeceu de novo e cada um foi para sua casa. Havia conseguido evitar uma conversa sobre o tempo e tinha sido melhor assim. Mas eu sabia que homens já haviam ficado amigos em situações piores.